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Como conversar com esquerdistas

(notas de uma conversa com P.S., 12/3/17)

Escutar o que ele está falando. E se o discurso dele é só uma coleção de lugares-comuns da esquerda (como deve ser, provavelmente), não tem problema. Fazer perguntas que tentam esclarecer o sentimento por trás do discurso (por exemplo, perguntar se o esquerdista tem medo de que Michel Temer vá empobrecer o Estado), e se a resposta for, de novo, um discurso pronto, repetir o processo (por exemplo, perguntar se o esquerdista tem medo de que o Estado pobre não poderá prover educação para a população), até chegar às raízes íntimas da inquietação que aquele esquerdista sente que tem alguma relação com aquele ponto.

Quando chega-se a esse ponto, o serviço já está feito. O serviço de neutralizar a neurose para deixar a pessoa lidar com suas causas que se escondiam por baixo de um mar de racionalizações e discursos políticos.

Um exemplo é o de que a pessoa foi assaltada. Nos momentos que se seguiram ao assalto, o sentimento de impotência e desorientação que ela experimentou era grande demais para ser tolerado (“por que eu? por que agora?”) e então ela usou discursos que tinha ouvido para criar uma explicação para tudo aquilo, e a explicação acabou sendo a de que a falta de educação básica é que cria assaltantes, e essa educação precisa ser fornecida pelo Estado etc.

Também não precisa ser tão traumático assim. Pode ser um fato que não envolveu nenhuma violência física, como a dor que ela sentiu ao ouvir um tio, que era professor infantil, numa roda de conversa, narrar, com alguma tristeza que ele tentava esconder, o fato de que fora demitido.

Talvez este seja o processo que Olavo tentou fazer, sempre sem sucesso (já que, imagino, sem muito empenho), ao perguntar às pessoas “de onde elas tiraram essa idéia”.

É bastante importante, talvez a parte mais importante, a cada momento deste processo (e de todos, mas estamos falando deste), notar em nós mesmos que o que o que estamos fazendo, essas perguntas todas, é de certa forma também um discurso (perceba que tem até um manual ensinando, que é este texto mesmo), e que ele também deve ter suas origens neuróticas.

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