A biblioteca infinita
Agora esqueci o nome do conto de Jorge Luis Borges em que a tal biblioteca é descrita, ou seus detalhes específicos. Eu tinha lido o conto e nunca havia percebido que ele matava a questão da aleatoriedade ser capaz de produzir coisas valiosas. Precisei mesmo da Wikipédia me dizer isso.
Alguns anos atrás levantei essa questão para um grupo de amigos sem saber que era uma questão tão batida e baixa. No meu exemplo era um cachorro andando sobre letras desenhadas e não um macaco numa máquina de escrever. A minha conclusão da discussão foi que não importa o que o cachorro escrevesse, sem uma inteligência capaz de compreender aquilo nada passaria de letras aleatórias.
Borges resolve tudo imaginando uma biblioteca que contém tudo o que o cachorro havia escrito durante todo o infinito em que fez o experimento, e portanto contém todo o conhecimento sobre tudo e todas as obras literárias possíveis – mas entre cada página ou frase muito boa ou pelo menos legívei há toneladas de livros completamente aleatórios e uma pessoa pode passar a vida dentro dessa biblioteca que contém tanto conhecimento importante e mesmo assim não aprender nada porque nunca vai achar os livros certos.
Everything would be in its blind volumes. Everything: the detailed history of the future, Aeschylus’ The Egyptians, the exact number of times that the waters of the Ganges have reflected the flight of a falcon, the secret and true nature of Rome, the encyclopedia Novalis would have constructed, my dreams and half-dreams at dawn on August 14, 1934, the proof of Pierre Fermat’s theorem, the unwritten chapters of Edwin Drood, those same chapters translated into the language spoken by the Garamantes, the paradoxes Berkeley invented concerning Time but didn’t publish, Urizen’s books of iron, the premature epiphanies of Stephen Dedalus, which would be meaningless before a cycle of a thousand years, the Gnostic Gospel of Basilides, the song the sirens sang, the complete catalog of the Library, the proof of the inaccuracy of that catalog. Everything: but for every sensible line or accurate fact there would be millions of meaningless cacophonies, verbal farragoes, and babblings. Everything: but all the generations of mankind could pass before the dizzying shelves – shelves that obliterate the day and on which chaos lies – ever reward them with a tolerable page.
Tenho a impressão de que a publicação gigantesca de artigos, posts, livros e tudo o mais está transformando o mundo nessa biblioteca. Há tanta coisa pra ler que é difícil achar o que presta. As pessoas precisam parar de escrever.