Empreendendorismo de boteco
Há no Brasil, não sei se em algum outro país, esse tipo que acha que sabe tudo e, falando alto e com convicção acaba convencendo todos os que sabem não saber nada. Entre os papéis que pode assumir o sabidão, um dos mais nocivos é o do empreendedor, o conhecedor de negócios, o que sabe quanto as coisas valem. Você conhece este homem, caro leitor, ele é aquele que, com sua voz alta e convicta, afirma coisas como “isso dá muito dinheiro” ou “tal empresa ganha dinheiro demais”. É aquele que tem a fórmula do dinheiro infinito: “se você quiser ganhar dinheiro é só comprar tal coisa e revender”, às vezes adicionando o sufixo “simples!”. É também o que têm noção da realidade: “se eu tivesse dinheiro pra investir abriria um tal negócio, dá muito dinheiro”, ele sabe que não é qualquer um que pode ser milionário: “mas precisa ter muito capital”, diz ele.
Em suma, é esse tipo que espalha essa idéia, vinda não sei daonde, de que qualquer empreendimento é coisa simples e que os empresários de sucesso são homens que já tinham dinheiro e que não tiveram dificuldade alguma em multiplicá-lo.
Hoje, com a invasão dessas pessoas aos cargos públicos, o Estado vive uma grande fase de empreendendorismo, com “investimentos” em empresas de futuro que “dinamizarão” a economia (ah, as “startups” e todo o seu capital estatal!) e, principalmente, com empreendimentos próprios, como foi o caso, por exemplo, dos estádios para a Copa de 2014: além da propaganda de todos os lados, desde os jornalistas infectados pelo empreendendorismo de boteco que repetiam “os estádios darão muito lucro, pois comportam não-sei-quantas pessoas e ainda podem ser usados para eventos” aos próprios técnicos do governo que faziam contratos com administradoras com cláusulas do tipo “o Estado garante aqui um lucro de 20 bilhões por ano, menos que isto a gente completa” e ainda eram aclamados pela mídia por sua certeza de que 20 bilhões eram pouco.