Xampu
Depois de quatro anos e meio sem usar xampu, e com o cabelo razoavelmente grande, dá pra perceber a enorme diferença entre não passar nada e passar L’Oréal Elsève, ou entre passar este e Seda Ceramidas Cocriações.
A diferença mais notável no primeiro caso é a de que o cabelo deixa de ter uma oleosidade natural que mantém os cachos juntos e passa a ser só uma massa amorfa de fios secos desgrenhados, um jamais tocando o outro. No segundo caso os cabelos não mais não se tocam, mas mantém-se embaraçados. Passar o condicionador para “hidratar” faz com que o cabelo fique pesado e mole, caindo para os lados.
Além do fato de que os xampus vêm sempre com as mesmas recomendações no verso (“para melhores resultados, utilize nossa linha completa”), o mais estranho é que as pessoas fazem juízos sobre os cabelos serem “secos” ou “oleosos” sendo que elas jamais os viram em um estado “natural” ou pelo menos mais próximo do natural, pelo contrário, estão sempre aplicando sobre eles um fluido secador, o xampu, e depois um fluido molhador, o condicionador, e cada um deles podendo ter efeitos diferentes sobre cada cabelo, o que deveria invalidar total e cabalmente todo juízo sobre oleosidade.
Por outro lado, embora existam, aqui e ali, discussões sobre a qualidade dos xampus e sobre qual é mais adequado a cada cabelo (embora, como deve ter ficado claro no parágrafo acima, estas discussões são totalmente desprovidas de qualquer base na realidade), não se discute a qualidade da água. A água que cada pessoa usa em seu banho deve ter um influência no mínimo igual à do xampu (ou não-xampu).
No final das contas, as pessoas passam a vida inteira usando o xampu errado, sem saber o que estão fazendo, chegando a conclusões baseadas em nada sobre os próprios cabelos e o dos outros, sem considerar os dados corretos – aliás, sem nem cogitar que pode existir algum dado além da percepção mais imediata e o feeling de cabelereiro de cada um –, ou então trocando de xampu a cada vez que o cabelo fica de um jeito diferente, fooled by randomness.